Vale a pena: “Pan Am”

Talvez eu esteja mesmo um pouco atrasado para falar de “Pan Am“, mas foi a nossa fantástica Netflix que me deu a oportunidade de poder conhecer melhor essa série tão singular, carismática e cheia de detalhes que valem a pena falar sobre.

Pan Am

Na época da estreia da série, o que me chamou a atenção, primeiramente, para o enredo foi a presença de Christina Ricci em um seriado de TV; em seguida, me interessou a história das aeromoças pioneiras, que numa época tão machista e cheia de restrições — políticas, pessoais, etc. —, conseguiam trilhar o caminho de suas próprias vidas. Ser uma aeromoça em 1963 significava duas coisas: conhecer o mundo e ter controle sobre o próprio destino.

“Pan Am” traça uma rota histórica em seus episódios. Através da atração é possível conhecer a fundo a realidade de uma das maiores companhias aéreas da década de 1960. Ser piloto ou comissária de bordo da Pan American World Airlines era, basicamente, um status que poucas pessoas podiam ostentar. Haviam regras muito rígidas para tornar-se uma aeromoça: controle do peso, a juventude, o estado civil e a beleza. Uma comissária tinha de vigiar seu peso corporal, ter menos de 32 anos, ser solteira e atraente (veja mais curiosidades aqui).

Iniciamos o seriado conhecendo Laura (Margot Robbie), uma jovem mulher que está prestes a se casar com seu grande amor. Momentos antes de selar o seu estado civil, Laura se vê numa situação delicada e desconfortável: ela quer cancelar a cerimônia e não tornar-se só mais uma mulher casada. Sua irmã mais velha, Kate (Kelli Garner), oferece a possibilidade de liberdade, ajudando-a a fugir de seu casamento e mostrando que é possível ser feliz de outras maneiras. Laura se torna aeromoça da Pan Am, cargo que sua irmã Kate já detinha há algum tempo.

A história nos apresenta outras comissárias: Maggie Ryan (a perfeita Christina Ricci), cuja trajetória de vida é um exemplo muito inspirador. Maggie sempre sonhou em almejar a grandiosidade e não era possível fazer isso sendo uma simples garçonete. Buscando novidades e glamour, ela acaba se tornando uma das melhores aeromoças da companhia, porém, carrega um histórico de insubordinação que, muitas vezes, coloca seu emprego em risco. Possui convicções políticas muito fortes e tem como seu ídolo o presidente John F. Kennedy.

Colette Valois (Karine Vanasse) é francesa, carismática e uma funcionária leal à Pan Am. Criada em um orfanato, ela perdeu seus pais no auge da 2ª Guerra Mundial e encontrou na América o seu verdadeiro lar. Sua habilidade de socialização é incrível e consegue agradar os passageiros mais exigentes da empresa. Sempre em busca do amor, acaba se apaixonando por um dos pilotos e, mais tarde, envolve-se com um príncipe.

Kate é a irmã mais velha de Laura. Com muitas habilidades, tem formação superior, é poliglota e tornar-se uma aeromoça significou poder conhecer o mundo, suas diferentes culturas e possibilidades. Independente, é considerada a rebelde da família, sempre teve problemas com sua mãe, que nunca aceitou uma filha que não integrasse os padrões para as mulheres da época; ser uma comissária de bordo não era trabalho para uma boa moça de família, educada para casar e fazer as vontades do marido. Kate também é uma agente secreta da CIA, cargo indicado por Bridget Pierce (Annabelle Wallis), uma aeromoça britânica e espiã que desaparece da noite para o dia.

Pan Am

Dean Lowrey (Mike Vogel) é o piloto que nos transporta para diversos países do mundo. Ele alcança um dos maiores cargos da companhia, o que provoca boatos sobre o que foi preciso realizar para conseguir chegar lá. É de uma família de origem simples, do campo e sempre adorou aviões. Era noivo de Bridget, até ela sumir do mapa. É um grande companheiro das aeromoças e sempre trabalha da melhor maneira, a fim de satisfazer os interesses de seus passageiros e, muitas vezes, acaba transgredindo limites.

E Ted Vanderway (Michael Mosley) é, talvez, o melhor dos personagens da série. Co-piloto de Dean, Ted é filho de uma família poderosa de Nova York e foi piloto de testes da marinha americana. Devido a um problema encontrado em um de seus aviões, acabou sendo dispensado dos serviços e tornou-se piloto comercial da Pan Am. É um personagem que cresce e amadurece ao longo da trama, busca incansavelmente o amor e faz de tudo para ver as pessoas mais próximas felizes e realizadas. Seu maior obstáculo é a relação espinhosa com o pai, que sempre subestima as escolhas do filho.

A vida curta de “Pan Am” (somente 14 capítulos) foi, confesso, algo muito dolorido. As histórias traziam assuntos polêmicos que devem ser debatidos: o assédio para com as mulheres numa época em que tal ação era aceitável e até justificável. A inserção efetiva de mulheres no mercado de trabalho, tendo a oportunidade de conhecer o mundo. É possível, com “Pan Am”, ir a fundo em diversos assuntos sobre o empoderamento da mulher em uma sociedade historicamente machista. Ser aeromoça tinha suas grandiosas vantagens, mas também carregava condições.

Com estes personagens, aprendemos mais sobre o assédio sexual por passageiros de primeira classe, que viam nas aeromoças alvos fáceis de ataque, acreditando que a posição de “pagante” também servia como um passe livre para ultrapassar o limite do corpo alheio. A inteligência americana abrindo espaço para as mulheres atuarem dentro de repartições secretas. Mulheres que têm liberdade para determinar seu destino através de suas escolhas, o sexo consensual antes do casamento e, inclusive, a sexualidade discordante para a época: ser lésbica era, praticamente, uma sentença de morte social.

Historicamente, “Pan Am” nos possibilita conhecer mais a fundo alguns aspectos da História. O assassinato do presidente Kennedy, em 1963; o Ich bin ein Berliner, famoso trecho do discurso de Kennedy na antiga Berlim Ocidental (na ocasião, John Kennedy estava enfatizando o apoio dos Estados Unidos à Alemanha Ocidental, 22 meses depois do Estado comunista da Alemanha Oriental, aliado da União Soviética, ter erguido o Muro de Berlim como forma de impedir qualquer movimento entre as regiões orientais e ocidentais da cidade); a rivalidade entre EUA e a União Soviética; entre outros.

Pan Am

Outro ponto forte da série são os figurinos, a decoração das casas e ambientes, todos recriados cuidadosamente para nos proporcionar um flashback de algo que nunca vivemos. “Pan Am” teve uma vida curta, porém, digna. Deleitou fãs e deixou saudades latejantes na alma. Por um breve momento tivemos a esperança de que ela pudesse continuar, mas, infelizmente, seu voo chegou ao fim. Quem sabe num futuro próximo a Netflix resolva resgatar a série e produzir novidades? Hoje em dia, tudo é possível!

“Pan Am” é material de maratona, não tem como errar! 😉

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