Seriados no Brasil: os 10 nomes e traduções mais bizarros — parte III
Depois da primeira edição do “Seriados no Brasil”, lançamos a parte II com mais 10 traduções bizarras de nomes de séries. Agora, para completar nossa lista, trazemos novos nomes e traduções ainda mais bizarros, apresentando a parte III, com 10 atrações que, ao chegarem no Brasil, tiveram o infortúnio da “adaptação”.
10º — The Middle — Uma Família Perdida no Meio do Nada
Frankie Heck é uma heroína. Bem, não uma heroína de verdade — a não ser que você considere conseguir fazer com que seus filhos acordem todas as manhãs para irem à escola uma super façanha. Uma mulher de meia idade, de classe média e morando no meio dos Estados Unidos, esta esposa e mãe de três filhos usa seu senso de humor para tentar fazer com que sua família sobreviva a cada dia intacta. Frankie trabalha como vendedora de carros na única concessionária que restou na cidade. Seu marido, Mike, é gerente na pedreira local.
Atualmente, “The Middle” acabou de finalizar sua 4ª temporada nos Estados Unidos e já ganhou uma renovação. No Brasil, é exibida pela Warner Channel, que há pouquíssimo tempo trouxe os episódios inéditos do 4º ano. Em meados de 2012, o SBT resolveu adquirir os direitos de exibição do programa e nos presenteou com o insano maravilhoso nome de “Uma Família Perdida no Meio do Nada”.
Por que isso aconteceu? Bom, quem assistiu ao episódio piloto da série, sabe que a família Heck mora em Indiana e que este estado é considerado o Acre americano. Ou seja, é um lugar perdido, definitivamente, no meio do nada. Claro que a “tradução” poderia ter sido um pouco mais sutil e não tão gigantesca, mas isto seria num mundo perfeito, não é mesmo?
9º — Wings — De Pernas Pro Ar
Joe e Brian Hackett são dois irmãos de personalidades totalmente diferentes. Joe é o irmão sério e responsável que gosta das coisas em seus devidos lugares. Já Brian, o caçula, é o extrovertido e um pouco desajustado. Apesar das diferenças, eles compartilham uma paixão em comum: aviões. E após a morte do pai, eles se reencontram e assumem o comando da empresa de táxi aéreo da família, a Sandpiper Airlines.
“Wings” foi um grande sucesso. Com 8 temporadas a 172 episódios produzidos, a série foi responsável por lançar nomes como Tim Daly (que conhecemos de “Private Practice“) e Tony Shalhoub (o responsável pelas temporadas de sucesso do seriado “Monk“). No momento, a atração faz parte da programação diária do canal pago TBS, o responsável pela tradução bizarra. “Wings” também já fez parte da época de ouro do Sony Channel, mas hoje perdeu espaço.
Por que isso aconteceu? Difícil entrar na cabeça dos responsáveis pela adaptação brasileira. O que dá para concluir é que, por se tratar de uma série que conta sua história em um aeroporto e seus protagonistas serem pilotos de avião, tudo está “de pernas pro ar”. Tudo bem, existe muita confusão por lá, mas ainda assim as coisas não são tão relaxadas assim…
8º — I Hate My Teenage Daughter — Filha Adolescente, Mãe Desesperada
Annie e Nikki são amigas de infância e compartilharam o terrível destino de serem consideradas “socialmente incorretas” durante os tempos de escola. E foi por este motivo que as duas decidiram educar as filhas de uma forma completamente diferente. Annie foi criada num ambiente completamente religioso e só podia sair de casa direto para a escola. Agora, no papel de mãe, ela faz todos os desejos da filha Sophie. Já Nikki cresceu sendo ridicularizada pelos colegas de sala por estar sempre acima do peso, e é por isto que decidiu dar à filha Mackenzie uma adolescência perfeita, com tudo o que se tem direito.
Um verdadeiro fiasco. É assim que o programa pode ser definido. Durou somente 12 episódios (sendo que os 5 últimos foram exibidos mais de um ano depois da estreia, nos EUA) e não existe muita coisa boa a ser dita sobre a série, a não ser pela presença de Jaime Pressly no elenco. No Brasil, a Warner Channel trouxe os episódios no início de 2012. Depois foi a vez do SBT transmitir o seriado e traduzir desta forma.
Por que isso aconteceu? A tradução do nome original ficaria “Eu Odeio Minha Filha Adolescente”. Embora fosse um título extremamente comercial (afinal, quem não gostaria de assistir algo com um nome desses?), não daria muito certo, somos um povo muito tradicional e esta adaptação não seria totalmente adequada. Então, pega-se um pedaço do enredo (filha adolescente), cria um novo plot (mãe desesperada), juntamos tudo e temos um novo nome. Pronto!
7º — Drop Dead Diva — Sob Medida
A série mostra a história de uma bela e estúpida aspirante à modelo, Deb, que após sofrer um acidente de carro fatal se vê em frente ao guardião dos portões do céu, Fred, que a declara um “zero à esquerda”. Sentindo-se insultada, ela tenta convencer Fred a retorná-la para sua existência superficial, mas ela é transferida acidentalmente para o corpo de Jane Bingum, que faleceu recentemente.
O sucesso da série é, de certa forma, relativo. No fim da quarta temporada, “DDD” foi cancelada, porém, o número fiel de fãs foi o suficiente para que o programa fosse resgatado do cancelamento e, assim, garantiu a produção de um quinto ano, que estrou nos EUA no último dia 23 de junho. Por aqui, a série chegou primeiramente através do Sony Channel e, na sequência, foi a vez da Rede Globo exibir os episódios do programa nas madrugadas da emissora, traduzindo-o como “Sob Medida”.
Por que isso aconteceu? A Globo sempre foi, de longe, a pior no quesito adaptação. E uma emissora conservadora como é, jamais usaria a tradução literal “Diva Que Caiu Morta” ou “Caia Morta, Diva” (entre inúmeras possibilidades). Então, na tentativa besta de “melhorar” o nome e torná-lo mais apelativo, usaram “Sob Medida”, referindo-se, unicamente, ao fato de que a protagonista é gorda.
6º — Necessary Roughness — Terapeuta Boa de Bola
Quando a Dra. Dani Santino, uma mulher divorciada de Long Island, durona e sexy, arruma um emprego de terapeuta de uma equipe profissional de futebol americano, seu sucesso inesperado faz com que ela seja procurada por clientes muito importantes, que estão atrás de seu estilo único de terapia. Ainda que sua profissão esteja começando a fazer estragos na sua vida, esta mãe solteira está decidida a estabelecer o equilíbrio perfeito entre sua carreira e sua vida pessoal.
Sendo parte da programação de um canal a cabo americano, “Necessary Roughness” tem um público bastante fiel. O enredo é criativo, as histórias são interessantes e o desenrolar dos personagens é algo muito bem trabalhado. Geralmente as adaptações bizarras partem dos canais abertos, mas neste caso, não foi o que aconteceu. O programa, atualmente, faz parte apenas da grade de programação da emissora A&E, que nos presenteou com a adaptação.
Por que isso aconteceu? Sempre insisto em afirmar que eu realmente não sei o que se passa na cabeça dos responsáveis por tais traduções/adaptações. O significado de “Necessary Roughness” seria algo como “Rigidez Necessária” ou, ainda, “Necessária Dureza”. Tudo bem, não são traduções legais e muito menos chamativas. Mas “Terapeuta Boa de Bola”? Sério? Não tinha nada menos ofensivo e sexista? Mancada A&E, que entra pela primeira vez na lista das bizarrices.
5º — Full House — Três é Demais
O programa narra a história de uma grande família. Danny é o pai de três lindas garotas, que ficou viúvo. Nos primeiros dias após a morte de sua esposa, sua mãe esteve o ajudando a cuidar de suas filhas: DJ, Stephanie e a caçula da família, Michelle. Mas, ela teve que voltar para sua casa, então dois amigos de Danny se mudaram para sua casa para o ajudarem na tarefa. As três irmãs precisam conviver com a inabilidade de Danny em ser um pai solteiro, enquanto enfrentam seus problemas, como a primeira menstruação ou o primeiro namorado.
Aqui temos a verdadeira representação de uma série de significativo sucesso. Foram 8 temporadas e 192 episódios produzidos. “Full House” fez sucesso no mundo todo e, até hoje, é reprisado nos Estados Unidos. No Brasil, a Warner Channel foi a precursora quando trouxe o seriado para a programação, permanecendo no ar durante muitos e muitos anos e, infelizmente, hoje perdeu espaço. Anos depois foi a vez do SBT resgatar a raridade e adaptar o nome.
Por que isso aconteceu? “Full House” tinha esse nome justamente por se tratar de uma “Casa Cheia”. Olhando a casa da família pelo lado de fora, não tinha como saber que lá dentro moravam nove pessoas e um cachorro. Era, de fato, uma grande família. Aí o SBT veio e… “Três é Demais” arrebatou fãs por toda a nação. Infelizmente o nome dava a impressão de haviam pessoas demais naquela casa, quando na verdade não passavam de uma família feliz.
4º — Life With Bonnie — Bom Dia, Bonnie
Bonnie Molloy é a estrela do programa matinal “Morning Chicago” e tem que enfrentar a caótica vida familiar com seus filhos pequenos e seu marido médico Mark, que não leva muito à sério sua carreira como apresentadora. E isso sem falar em Gloria, a governanta que faz as crianças realizarem o serviço da casa. O cotidiano de sua vida muitas vezes irá servir de tema para o seu programa.
Embora não fosse a verdadeira definição da comédia, a atração tinha o seu diferencial e cativou o público. Com apenas duas temporadas e 44 episódios gravados, “Life With Bonnie” buscava retratar exatamente o que era a “Vida Com Bonnie”, dentro do contexto familiar e profissional. Inicialmente sendo transmitida pelo Sony Channel, o seriado, posteriormente, foi exibido pelo SBT, o vice-campeão das traduções e adaptações bizarras.
Por que isso aconteceu? Bonnie apresentava um programa chamado “Manhã Chicago” (que também pode ser interpretado como “Bom Dia, Chicago”). O título original + o nome do programa foram cruciais na hora de encontrar um nome abrasileirado para a série. Logo, o que seria “Vida Com Bonnie” se tornou “Bom Dia, Bonnie”. Triste.
3º — Privileged — As Patricinhas de Palm Beach
Megan Smith, tem apenas 23 anos, é formada em Yale, tem atitude totalmente positiva e um plano de conquistar o mundo do jornalismo, porém, ela é demitida de seu trabalho em um tablóide. As coisas começam a melhorar quando ela recebe uma oferta para trabalhar em Palm Beach, para a magnata dos cosméticos Laurel Limoges, como tutora das netas gêmeas adolescentes dela, em um mundo de riqueza e poder. Em troca de conseguir com que as garotas entrem para a Universidade Duke, Megan terá a oportunidade de viver entre os ricos e famosos, além de quitar o seu empréstimo que pagou universidade.
A série não tem aquele enredo original ou interessante. Embora tenha sido baseada em um livro, o programa não atraiu muitos telespectadores fãs de “patricinhas” mimadas e cheias de dinheiro. Com somente uma temporada e 18 episódios, talvez a única coisa boa de todo o seriado tenha sido a presença de Lucy Hale no elenco. No Brasil, primeiramente chegou pela Warner Channel e, claro, no SBT, quem trouxe a terrível adaptação do título original.
Por que isso aconteceu? Está bem claro aqui que os responsáveis pela “tradução” do nome quiseram pegar uma caroninha rápida na série (e também filme) “As Patricinhas de Beverly Hills”. Esta sim teve grande sucesso, não apenas lá fora, mas aqui no Brasil também. Patética foi a ideia de usar um programa antigo para conseguir a atenção de forma apelativa.
2º — Outsourced — Alô, Alô, Índia; Aprontando na Índia
O que você faria se o seu setor de trabalho fosse transferido para a Índia e você tivesse que escolher entre se mudar para lá ou perder o emprego? Todd Dempsey trabalha em uma empresa norte-americana e está prestes a se tornar o gerente do call center. Mas, ao voltar de um seminário de capacitação, ele descobre que a empresa decidiu terceirizar o atendimento na Índia, para diminuir os custos, e que demitiu todos os funcionários, menos ele. Se ainda quiser ser o gerente, ele deverá se mudar para lá.
A sitcom da NBC não foi aquele sucesso estrondoso, até mesmo porque a trama era fraca e o elenco praticamente desconhecido, mas durou uma temporada completa, com 22 episódios produzidos. No Brasil, a série foi exibida primeiramente pela TV aberta, a Record, que adaptou o título para “Aprontando na Índia” (tudo com muita confusão, não é mesmo?). Em seguida, o TBS adquiriu os direitos da série e traduziu para “Alô, Alô, Índia”.
Por que isso aconteceu? Parece-me que ambas as emissoras quiseram deixar claro que a série se passava na Índia. Ao falar do título da Record, é simples: para ser chamativo, basta adicionar confusão “aprontando” no nome e se tem o produto final. No nome do TBS, a ideia foi juntar o fato de o programa se passar em um call center na Índia. Então, “Alô, Alô, Índia” pareceu bastante promissor. Lembrando que outsourced significa “terceirizado”. Os dois nomes são horríveis, entretanto.
1º — Clueless — As Patricinhas de Beverly Hills
A série mostra as paixões e aventuras de Cher Horowitz, uma descolada — e complicada! — patricinha que adora ir ao shopping, fazer muitas compras e frequentar festas badaladas. Além dela, sua amiga Dionne Davenport e a exagerada Amber Mariens fazem parte do grupo das garotas populares do colégio. Igualmente ricas, bonitas e charmosas, elas seguem à risca as tendências da moda e têm o guarda-roupa de dar inveja em qualquer garota. Junto com elas estão Murray Duvall e Sean Holiday, dois amigos super engraçados e pra lá de trapalhões.
Todo mundo conhece o filme de mesmo nome com a atriz Alicia Silverstone no papel principal. Poucos, no entanto, lembram da série (aqui falo melhor disso) que foi baseada no filme. A diferença é que Alicia não quis reprisar o papel na série e foi substituída por Rachel Blanchard. Como “Clueless”, primeiramente, foi exibida no Brasil em 1997 na Globo, é bem provável que muitos só conheçam o seriado através do Sony Spin, que a exibiu, recentemente. Foram três temporadas e 62 episódios (em duas emissoras americanas diferentes).
Por que isso aconteceu? Estamos falando da Rede Globo aqui. Então, como já falamos antes, é o canal que mais nos traz agonia diversão com seus nomes bizarros. O título original significa algo como “Sem Noção” (que reflete exatamente o comportamento das nossas “patricinhas”). Obviamente que uma série chamada “Sem Noção” não teria apelo publicitário algum (imaginem: “Hoje, logo depois do ‘Fantástico’, assistam ‘Sem Noção'”). Não, né? Então o mais fácil foi atribuir um nome mais comercial, utilizando o estereótipo das meninas sem noção com o local em que elas vivem. Bingo!
Por se tratar de uma série muito antiga, não encontrei nenhuma referência em relação à exibição na Globo. Então fiquem com o vídeo de abertura original:
Gostou? Então corra conferir a parte IV.